texto originalmente postado em 365 filmes de horror
Distrito 9 - District 9 (2009)
Pra quem busca um filme clássico de alienígenas, com abduções perturbadoras ou invasões pra dominar o planeta, Distrito 9 não é o mais indicado. Embora tenha cenas de ação muito boas, além de flertar com o suspense e certamente agradar os fãs de ficção científica, o foco do horror aqui se dá numa questão diferente do que costumamos ver em filmes dessa temática.
Baseado em um curta metragem de 2005 chamado ‘Alive in Joburg’, do mesmo diretor e estrelado pelo mesmo ator, conta a trajetória de alienígenas que chegaram à Terra em busca de ajuda e acabaram condenados a viver em um regime militarizado de separação racial. Com essa premissa, já podemos concluir que vamos explorar um horror social que traz lembranças de um passado não muito distante e reflexos de um presente distorcido da nossa própria sociedade, e que desperta sentimentos de tristeza e revolta no espectador.
Aqui entramos na zona de possíveis spoilers, então cuidado!
Na primeira parte do filme, acompanhamos os acontecimentos de realocação dos alienígenas do Distrito 9, que de uma região de abrigo se tornou uma área precarizada, pra um campo de refugiados, de onde pretendem que eles comecem a deixar o planeta. Isso nos é apresentado na forma de falso documentário, com depoimentos de funcionários da empresa contratada pra fazer a segurança paramilitar, assim como de pessoas entrevistadas nas ruas a respeito da situação com os novos moradores do planeta, mostrando claramente o descontentamento xenofóbico com a presença deles. Também acompanhamos o trabalho em campo de uma equipe que está tentando notificar os despejos, numa tentativa patética de criar alguma burocracia que justifique os abusos cometidos.
Nesse momento nos é apresentado o personagem que vamos seguir até o final, o funcionário responsável pelas notificações de que os moradores do Distrito 9 serão despejados, e o alienígena que mais tarde se juntará ao humano em uma jornada desesperada de salvação individual e coletiva. Além de acompanharmos os horrores que são cometidos por homens fortemente armados contra os alienígenas e endossados, até com divertimento, pelos outros membros do grupo, somos introduzidos na dinâmica social do lugar, que conta também com moradores humanos e tem suas próprias regras internas, causando situações de abusos entre as espécies e dentro das espécies. E, claro, a ganância humana que pretende explorar a tecnologia extraterrestre com fins bélicos.
Após essa introdução, começamos a ver a situação diretamente do ponto de vista do protagonista, que passa de opressor a oprimido e precisa correr contra o tempo pra se salvar, buscando ajuda no lugar mais improvável possível: no distrito 9, onde faz uma aliança com um alienígena pra chegar a um determinado fim, embora os objetivos de cada um sejam claramente diferentes.
Distrito 9 é um filme que não perdeu sua essência crítica com o passar dos anos causando, ainda hoje, o mesmo horror quando somos forçados a encarar o que a humanidade é capaz de fazer quando encontra motivos pra se distanciar de determinado grupo, agindo de forma cruel e deitando a cabeça em um travesseiro hipócrita de auto justificativa.